São poucas as pessoas que, ao serem contratadas, não gostariam de receber o aviso: “Aqui não temos chefe”. É este o cenário na Vagas, companhia de tecnologia e fornecimento de RH. Lá, as decisões são tomadas de forma linear, apenas sob total consenso dentro e entre os grupos. Mas a falta do poder centralizado em um único funcionário – gerente, diretor, presidente – não significa que não há uma forte estrutura dentro da empresa.
Apesar de o modelo de gestão horizontal da empresa ter sido premiado pela Mix (Management Innovation Exchange), Mário Kaphan, o cofundador – sua única nomenclatura, já que seu cargo de CEO foi extinto – conta que a nomeação do que fazem só veio recentemente: “As coisas evoluíram de maneira muito natural. Desde o começo, essa é a forma que preferimos nos organizar”.
Apesar dos cargos de chefia nunca terem sido exercidos de maneira convencional, já que eram escolhidos pela referência em conhecimento e experiência, foi ao desfazer estes cargos que perceberam ter o potencial para uma vertente mais radical do tipo de administração que já faziam.
Os participantes, como Kaphan os chama, dividem-se em áreas e, depois, em equipes. A regra geral é que cada uma tenha até oito integrantes; mas caso os membros entrem em acordo, este número pode aumentar. É desta forma que todas as decisões e medidas são tomadas dentro da Vagas: em consenso. “Mesmo que prefira sua ideia, para atingir uma unanimidade na hora das definições é preciso livrar-se dos conceitos individuais para criar algo mais forte”, diz o executivo.
A cada 15 dias, as equipes se reúnem para analisar a evolução das propostas e novas formas de se aprimoraram. Não há metas a serem batidas nem orçamentos fixos – tudo é decidido julgando qual o melhor passo a ser dado. Estas reuniões – como todas as outras dentro da empresa – são abertas para todos os empregados.
O cofundador gosta de dizer que “cada um faz o que quer, mas todos têm a ver com isso”. Nos planejamentos anuais, qualquer pessoa pode inscrever-se para participar de qualquer projeto – e são os próprios colegas que decidem quem fará parte dos comitês e comissões. Mais uma vez, tudo é construído a partir do consenso.
Kaphan conta que o principal diferencial da gestão horizontal é ser a única que permite uma total vivência dos valores compartilhados. “Trabalhamos com o pressuposto do desapego, ao largar de uma ideia para construir outra mais forte, e do comprometimento: nada funciona sem o engajamento das pessoas”.
Ironicamente, o executivo diz que a parte mais complexa é a de seleção. “Não é todo mundo que se adapta a este tipo de ambiente”. As demissões são frequentes também; mas, ao contrario do que acontece em outras empresas, na Vagas a maioria delas se dá pela falta de compromisso do funcionário, e não por erros – e a decisão é tomada por toda a equipe.
A valorização da construção de consensos, de bons valores vividos em grupo e do engajamento pessoal – no profissional – acaba refletindo no desempenho da companhia. Há 15 anos no mercado, a Vagas nunca cresceu menos do que 29% ao ano. “Queremos manter o espírito de empresa pequena, familiar e unida, mesmo crescendo”, diz Kaphan.
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